Por Simone Santos
A demanda por locação de áreas de condomínios industriais e logísticos segue em franca expansão, puxada por empresas de comércio eletrônico e dos setores farmacêuticos, de alimentos, bebidas, vestuário e calçados. Ainda assim, a chegada de novos empreendimentos ao mercado tende a diminuir devido ao cenário macroeconômico desafiador, com inflação acima da meta do Banco Central (BC) e juros em alta.
Em 2024, a absorção líquida de galpões – diferença entre contratações e devoluções – aumentou 12%, para 2.664.064 metros quadrados, enquanto a bruta registrou incremento de 5,2%, para 4.448.435 metros quadrados, conforme levantamento da consultoria Binswanger Brazil. O estoque entregue avançou 12,3%, para 2.496.769 metros quadrados.
O segmento de condomínios industriais e logísticos alcançou a marca trimestral inédita de absorção bruta de 1 milhão de metros quadrados de abril a junho, situação que se repetiu no terceiro e no quarto trimestre. O total de contratações chegou a 1.100.258 metros quadrados, de outubro a dezembro, com alta de 22,6% na comparação anual.
A absorção líquida disparou 38,6%, no terceiro trimestre, para 677.736 metros quadrados. O preço médio pedido por metro quadrado foi de R$ 26,19, com alta de 3,9% ante o mesmo período de 2023.
A taxa de vacância caiu de 9,99% para 8,34%, na comparação dos dois intervalos, segundo a pesquisa da Binswanger. A consultoria espera continuidade da vacância em patamares baixos, considerando-se o pequeno volume de devoluções diante da dificuldade de encontrar estoque vago com preços inferiores aos das áreas ocupadas.
Empresas de varejo digital – líderes da demanda por áreas de galpões – seguem em expansão. Dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) apontam crescimento de 10% do faturamento do e-commerce, no ano passado, para R$ 204,3 bilhões. O volume de pedidos aumentou 5%, e o número de compradores avançou 4%.
Já o Índice do Varejo Stone (IVS) mostrou que o comércio brasileiro encerrou 2024 com crescimento de 0,6%. Enquanto as vendas das lojas físicas apresentaram retração de 2,1%, as do comércio digital aumentaram 7,7%.
Muito se fala nas contratações de áreas de galpões por empresas de comércio eletrônico, do varejo tradicional e da indústria, mas os centros de processamento de dados também tendem a crescer no ranking de inquilinos. A ampliação em curso do número e da capacidade de empreendimentos para data centers resulta das necessidades de volume maior de processamento de dados em decorrência do avanço da inteligência artificial e do incremento da infraestrutura.
Investidores e desenvolvedoras de galpões interessados em atuar no crescente segmento já se mobilizam na busca de terrenos e licenças, considerando os prazos longos para que os projetos sejam aprovados.
Se os fundamentos da demanda por galpões continuam sólidos, o ambiente macroeconômico para quem investe no segmento está mais árduo, o que tende a se refletir na queda do novo estoque. O mercado projeta a taxa básica de juros em 15% no fim de 2025, – atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano. E há temores de que as incertezas da economia possam se refletir na desaceleração do consumo.
A Selic em alta é a principal razão para a rentabilidade dos fundos imobiliários lastreados por galpões ter caído 11% no ano passado. Juros elevados aumentam o custo de capital para investimentos ao mesmo tempo em que tornam aplicações em renda fixa mais interessantes do que aportes em renda variável e do que a aposta na obtenção de receita por meio de locação.
Apesar do momento desafiador para o segmento de condomínios industriais e logísticos, a JiveMauá divulgou, neste mês, ter captado R$ 1,246 bilhão em fundo de galpões, o Mauá Capital Logística. A gestora começou a levantar os recursos em novembro.
De acordo com o jornal Valor Econômico, a JiveMauá pretende aproveitar a oferta de imóveis a preços mais baixos no atual cenário. As aquisições vão se concentrar nos raios de 45 quilômetros de São Paulo e do Rio de Janeiro, e a intenção da gestora é fechar locações de longo prazo por meio de contratos atípicos, segundo a reportagem.
* Simone Santos é sócia-diretora da Binswanger Brazil