Por Paulo Vieira
A população de São Paulo continua praticamente a mesma, mas a paisagem da cidade? Quanta diferença.
Entre 2010 e 2022, anos em que foram realizados os dois últimos censos, a população paulistana aumentou 200 mil pessoas, taxa anual de crescimento de apenas 0,15%. Mas em certas áreas, muito por causa dos estímulos ao adensamento habitacional nos eixos de transporte inscritos no Plano Diretor de 2014, outra São Paulo parece ter surgido.
Especialmente em quadras próximas a estações de metrô, muros de arranha-céus brotaram, e o skyline — o panorama formado pela linha dos prédios contra o céu — da metrópole mudou. E ainda mudará bastante.
Vista aérea dos prédios prontos no Parque Global, complexo imobiliário localizado na MarginalPinheiros – Rafaela Araújo/Folhapress.
Quem passa pela Marginal Pinheiros, na altura da ponte Laguna — ela mesma um “new kid” na paisagem —, vê transformações diárias nessa região da zona sul paulistana. Do lado oeste, a incorporadora Benx ergue o Parque Global, complexo que vai contar com a futura unidade do hospital Einstein, um shopping center, um edifício de 173 metros de altura com andares para hotel e um condomínio exclusivamente residencial com cinco espigões de 47 andares. Quatro deles foram entregues, e cem famílias já habitam o lugar. Espera-se que 2.000 pessoas morem ali.
O Global ainda teve uma área desapropriada pelo metrô, que promete levar para lá a estação Panamby da desejada extensão do jamais inaugurado monotrilho da Linha 17-Ouro; nas contrapartidas que tem de cumprir, cabe à Benx entregar uma nova avenida e uma outra ponte sobre o Pinheiros.
A Secretaria Executiva de Mobilidade e Trânsito da Prefeitura de São Paulo informou à Folha que o Parque Global deve gerar, quando inteiramente pronto, um incremento diário de 42 mil visitantes — 8.000 vagas para carros estão previstas.
Do outro lado do rio, na Chácara Santo Antônio, mais novidades. O grande projeto é o Paseo Alto das Nações, conjunto que contará com o edifício corporativo mais alto de São Paulo, com 219 metros de altura — em maio, em plena construção, ele já desbancava o Platina 220, orgulho do Tatuapé com seus 172 metros.
A torre residencial prevista também deve causar impressão, nem tanto por seus 116 metros de altura, mas pela junção de duas grifes imobiliárias, a Lindenberg e a Eztec. Dono do terreno, o Carrefour mantém ali a histórica primeira unidade brasileira de seu hipermercado, agora âncora discreta de um centro comercial.
Defronte ao Alto das Nações, a gestora Arch, também responsável pelo complexo Rochaverá, na região do Shopping Morumbi, renomeou seu Luna Corporate como Romeo e Julieta. São dois edifícios “triple A”, considerados o mais sofisticado padrão de construção corporativa, com o baixinho Romeo agora a exalar ambiência artística: grandes esculturas ao ar livre, pinturas temporárias de fachada — a atual de temática indígena, como está em voga —, e biblioteca no lobby com exposição de fotos de Pierre Verger.
Este ano, a XP anunciou mudança de boa parte de seu contingente de funcionários, hoje abrigados no SP Corporate Towers, as famosas torres gêmeas ao lado do shopping JK, para o complexo. A empresa preferiu não falar com a Folha, mas infere-se que gastar menos com aluguel é o principal motivo.
Para Renato Almeida, head de corporate offices da imobiliária Cushman & Wakefield, a Chácara Santo Antônio “é muito atraente especialmente por possuir um metro quadrado de valor equivalente a cerca de um terço daquele da Faria Lima”.
Em estudo enviado com exclusividade à Folha, a consultoria imobiliária Binswanger informou que, com 17 mil m², a XP será a segunda empresa com maior ocupação de lajes corporativas da região, perdendo apenas para a Nestlé, com 22 mil m². O relatório indicou também que a vacância na Chácara Santo Antônio segue “elevada”, mas está em seu menor patamar desde 2016.
O atual, 34,3%, caiu significativamente em relação à média dos últimos seis anos, de 47,6%.
A Chácara Santo Antônio, que é conectada pela estação Granja Julieta da linha 9-Esmeralda da CPTM, também terá novidades exclusivamente residenciais. Junto à estação e ao Alto das Nações, a Cury começa a erguer dois empreendimentos, cada um com 624 apartamentos, todos vendidos em até duas semanas após o lançamento, como disse à Folha Adriano Afonso, gerente comercial da construtora.
Em outubro, na avenida Cecília Lottemberg, novo eixo viário da região, a Cury lança mais um residencial, de outras 500 unidades, o Alto Chácara Santo Antônio. Afonso diz que o grande objetivo da empresa “é acelerar a ocupação qualificada de regiões estratégicas da cidade, com moradia digna e financiamento facilitado pelo programa Minha Casa, Minha Vida”.
O risco de que o atual boom construtivo, aliado aos quase 600 mil imóveis vazios da cidade (segundo o Censo 2022), leve a problemas de ociosidade à frente foi refutado pelo vice-presidente do Secovi e colunista da Folha, Claudio Bernardes.
“Na hipótese pouco crível de que o mercado não percebesse o que está acontecendo e saísse produzindo muitas unidades a mais, os preços despencariam”, diz. “De forma geral, o mercado é orientado para estas duas coisas: demanda e regramento.”
